PARTE III
ROCK PROGRESSIVO AINDA VIVO E RESPIRANDO!
1969 NA CORTE DO REI RUBRO
Como eu disse, falar do ProgRock é contar historias e lendas antigas que habitam as obras dos vários artistas, que se juntaram para compor uma musica que fosse alem do seu tempo. Artistas saídos de escolas de Artes, estudantes atentos aos ensinamentos de músicos contemporâneos ainda vivos, que expressavam e aplicavam seus ensinamentos em controversas obras naqueles loucos anos 60! Algumas dessas novidades engendradas nos círculos acadêmicos, respingava no malfadado Rock and Roll que, como o mar recebe toda as águas dos rios, explodia em variados estilos! Compositores como Schoenberg, Ginastera, Carl Orff, Ravel, Rachmaninoff, Gershwin, entre tantos outros, propunham uma nova visão ao universo do estudo clássico da musica e vários alunos dessas escolas de Artes, propunham alternativas mais ousadas na composição da musica popular, conseqüentemente, influenciando o inocente Rock and Roll. Os apreciadores da musica erudita costumam polemizar questionando o valor estético da música popular, dizendo que a mesma é apenas para mero entretenimento e, devido a isto, atinge um publico muito maior. Em contraponto, dizem que as peças eruditas contem maior valor artístico. Este é um argumento fraco nos dias atuais, pois várias peças eruditas foram usadas extensivamente em campanhas publicitárias, vide trecho d’As Quatro Estações de Vivaldi em propaganda de perfume, talvez por causa destes alunos das Escolas de Artes durante os anos 60 interessados em desbundar e unir o Rock and Roll com a Musica Erudita! Várias outras artifícios de composição erudita caíam no gosto popular, como as Suites, que são uma seqüência de danças muito utilizadas durante o período Renascentista. Porem a intenção da Suite neste caso é a de usá-la como recurso para contar uma historia de varias partes em uma única musica. O lado B do último disco gravado pelos Beatles, o Abbey Road, abraça esta proposta, porem sem a pretensão de contar alguma historia, aproveitando apenas a idéia do Paul de tocar musicas que tivessem uma interligação e que fossem crescendo até um final apoteótico, como uma despedida para os fãs. Com toda esta situação efervescendo na Europa e explodindo em outros cantos, surge uma banda chamada King Crimson, com seu cast de músicos brilhantes, inclusive contendo um dos melhores guitarristas do gênero ProgRock, Robert Fripp!. A banda lança seu primeiro disco em 1969, In the court of the Crimson King, incensado num show de abertura para os Rolling Stones,! A banda logo fez sucesso na frente de milhares de pessoas, executando brilhantemente as musicas do primeiro disco e conseguiram cativar os fãs de cara, nos primeiros acordes. Este disco abre com uma melodia quase Heavy Metal, 21st Century Schizoid Man, que, após o riff, que não deixa nada a desejar frente os mestres do estilo como Iommi, Page e outros, passa a uma Jam tresloucada, finalizando numa porrada sonora e num inesperado free jazz, demonstrando a perfeita interação entre os músicos. A segunda musica, I talk to the Wind, uma bela canção que se contrapõe a primeira pela leveza e delicadeza duma flauta transversal que dialoga harmonicamente com uma guitarra sem fuzz. Daí pra frente são surpresas como a desesperada Epitaph orquestrada por um mellotron, teclado muito usado na época por sua etereidade sonora. O disco caminha para um desfecho inusitado, quando ousa na sua quarta faixa colocar o mellotron pra dialogar com os pratos da bateria e apenas isto, fazendo a base para o vocal de Greg Lake mixado no estudio. Mellotrons, órgãos Hammonds e baterias, simulam o passeio lunar de uma criança da lua e são doze minutos de uma odisséia sonora que se contrapõe ao silencio, experimentalismo puro. Fecham a primeira obra com a musica que dá titulo ao álbum, mais uma vez aberta por um riff sonoro que acompanhará o refrão da musica e, mais uma vez, a leveza de uma flauta transversal se contrapõe ao peso da guitarra e bateria. Esta é uma obra a ser descoberta pelos novos e curiosos do universo ProgRoqueiro, porem merece mais de uma plugada no play, pois contem tantas nuances que talvez na primeira execução, ouvidos maltratados hoje em dia, não descobrirão a beleza da mesma de imediato. Recomendo e incentivo a audição para o tratamento dos ouvidos cansados de tanto baticum sem propósito nos dias atuais.
Bem vindo a corte do Rei Rubro!
Longa Vida ao Rock and Roll!
Escuta aí álbuns de Progs de Sucesso de 1969:
KING CRIMSON – IN THE COURT OF THE CRIMSON KING
YES – YES (1969) estréia da banda
RENAISSANCE – RENAISSANCE estréia da banda
GENESIS – FROM GENESIS TO REVELATION estréia da banda
E aguardem, na próxima entramos definitivamente nos anos 70 com o anuncio do fim dos Beatles e outras revoluções a vista! Vamos aos anos 70, a década que não acabou!
Por Paulo Trindade
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